Amor que te faz sofrer desde o início não é amor

Muitas vezes, romantizamos a dor. Crescemos ouvindo histórias em que o amor verdadeiro supera obstáculos, ando sofrimento, rejeição e até humilhação em nome de um final feliz. Mas será que isso é amor — ou apenas uma ideia distorcida dele? Quando um relacionamento começa com mais lágrimas do que sorrisos, mais insegurança do que afeto, é necessário parar e refletir: isso é realmente amor, ou apenas apego, carência e confusão?

O falso brilho do amor sofrido

Relacionamentos que fazem sofrer desde o começo geralmente vêm embalados por uma intensidade enganosa. É comum que a paixão seja confundida com amor, especialmente quando há química, promessas rápidas e declarações grandiosas. Mas por trás dessa intensidade, muitas vezes se escondem padrões de desrespeito, instabilidade emocional e comportamentos manipuladores.

Amor não é dor constante. Amor não é dúvida diária. Amor não é aquele nó no estômago que você sente sempre que recebe uma mensagem seca ou quando é ignorada por dias. Amar alguém não deve significar anular quem você é, viver em função de migalhas de atenção ou ficar implorando por um carinho que deveria ser espontâneo.

Quando o início já vem com sofrimento

Se desde os primeiros momentos o relacionamento já traz insegurança, lágrimas e questionamentos, é um sinal de alerta. Amar deve trazer paz, não medo. Deve construir segurança, não ansiedade. Quando alguém que mal chegou já tira sua paz, faz você se sentir insuficiente ou insegura, isso diz mais sobre a imaturidade ou toxicidade da relação do que sobre "amor verdadeiro".

Muitas pessoas acreditam que precisam ar por essas fases difíceis para "merecer" o amor no futuro. Como se fosse necessário sofrer primeiro para depois ser feliz. Essa ideia precisa ser desconstruída. Relacionamentos saudáveis não precisam começar com dor para valerem a pena. O amor de verdade não chega machucando, testando ou manipulando — ele se apresenta com respeito, cuidado e leveza.

Apego, carência e autoengano

Um dos maiores equívocos é confundir carência com amor. Quando alguém entra em nossa vida em um momento de fragilidade emocional, é comum projetarmos nessa pessoa o desejo de preenchimento. E, assim, acabamos tolerando atitudes que não aceitaríamos se estivéssemos emocionalmente fortalecidos.

O amor-próprio é o principal antídoto para essas relações que fazem sofrer. Quando você se conhece e se valoriza, fica mais fácil perceber quando está se machucando em nome de um sentimento que nem mesmo existe de forma saudável. Em vez de se apegar à ilusão do "ele vai mudar" ou "tudo vai melhorar com o tempo", você começa a se perguntar: por que estou me permitindo viver algo que me dói desde o início?

Amor saudável x amor que destrói

Amor saudável traz segurança, não ansiedade. Ele constrói, não destrói. Apoia, não sabota. Em um relacionamento verdadeiro, não é necessário abrir mão da sua essência para agradar o outro. Você não precisa pisar em ovos, se calar para evitar brigas ou viver em constante alerta.

Um amor verdadeiro é recíproco. Existe esforço de ambas as partes para manter a relação viva e saudável. Há diálogo, empatia, parceria e respeito. Já nos relacionamentos que fazem sofrer desde o início, o esforço é unilateral — geralmente de quem mais sente e menos recebe.

A importância de saber sair

É doloroso aceitar que algo que começou com tanta expectativa não é bom para você. Mas é libertador entender que sair de uma relação que só te faz mal é um ato de amor-próprio. Ficar esperando que o outro mude ou que a dor se transforme em prazer é como insistir em caminhar com um sapato que machuca desde o primeiro o.

Relacionamentos não devem começar com sofrimento para depois melhorar. O começo é o momento em que tudo deveria ser leve, bonito e acolhedor. Se nem nesse início há paz, o que esperar do meio ou do fim?

Conclusão

O amor verdadeiro não dói desde o início com barravips. Ele pode até enfrentar dificuldades com o tempo, mas jamais será sinônimo de sofrimento constante desde os primeiros momentos. Acredite: o amor de verdade começa com calma, respeito, afeto sincero e leveza. E você merece isso — desde o início.

Se hoje você está vivendo uma relação que machuca mais do que acolhe, pare, respire e se pergunte: o que me prende aqui? Isso é amor ou é medo da solidão? Porque a verdade é simples: amor que te faz sofrer desde o começo não é amor. É ilusão, é apego, é algo que você pode — e deve — deixar para trás.

Texto : Júlia da Silva